segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Como Helena mudou a minha vida



Num desses sábados quarentênicos de vinho, pizza caseira e música eu consegui plantar uma bananeira com os pés na parede, igualzinho eu fazia quando tinha 12 anos. E em outro eu cheguei à conclusão de que My Chemical Romance, mais precisamente Helena, pode ter sido um divisor de águas na minha vida. Eu vi o clipe de Helena na MTV pela primeira vez quando estava começando a deixar de escutar somente o que todos os adolescentes de Santa Rosa escutavam. Eu queria saber mais sobre música, a internet ainda não era lá essas coisas e o computador que eu a acessava via conexão discada era ainda pior, mas eu tinha MTV. E foi com ela que eu comecei a descobrir o que havia além da Guaíra FM e das festinhas do Clube Concórdia. 

Antes disso eu já gostava de róque, mas não sabia quase nada sobre o assunto. Minha banda favorita era CPM 22, mas em minha defesa também digo que graças a uma gambiarra que minha irmã fazia na antena do seu microsystem para pegar a rádio Atlântida de Porto Alegre, eu conheci Strokes em 2001, em seu debut.

Eu tinha 15 anos quando vi o clipe de Helena pela primeira vez. No primeiro segundo pensei que era Whites Stripes. Não saberia afirmar por que, mas acho que fazia sentido. Depois, o que me chamou atenção foi o vestido da atriz/bailarina. Me lembrou meu próprio vestido de 15 anos. Eu estava em uma fase meio dark, usava quase só preto e pela primeira vez me senti verdadeiramente identificada com uma banda e com uma estética. CPM 22 era meio colorido, meio skater, meio jovens correndo felizes de bermuda e boné. E o que eu estava vendo agora fechava melhor com meu estado de espírito naquele momento. 

Eu ainda nem sabia o que era emo, só achei que aquilo tinha sido feito pra mim. Era meio obscuro, melancólico, mas ao mesmo não era pesado como as coisas que eu achava que tinha que gostar, tipo Nightwish.

Em 2005 ainda não era, ao menos para mim, tão automático o processo de ver uma banda em algum lugar e imediatamente procurá-la na internet, mal usávamos Google e Youtube ainda não existia. Eventualmente eu baixava alguma música no Kazaa ou no Limewire, mas estamos falando de uma conexão discada e de um computador com windows 95, comprado de segunda mão quatro anos antes. Não lembro quando e nem como tive acesso ao resto das músicas do My Chemical Romance.

Eu tinha um colega nerd com um computador muito melhor que o meu e mais conhecimento tecnológico e que capitalizava isso corretamente: gravava CDs personalizados por 10 reais. Por um tempo foi assim que consegui ter as músicas das minhas bandas favoritas à minha disposição 24 horas por dia, no microsystem que ficava do lado da minha cama. Depois, consegui um namorado que fazia o mesmo, mas de graça. Provavelmente daí consegui o resto do disco.

Depois de Helena passei a ter mais interesse por bandas parecidas e logo veio a polemiquíssima Capricho emo™ para finalmente me explicar que raio era aquilo tudo. 

Muito mais do que ter me metido involuntariamente no emocore, Helena me fez ter mais interesse pela música, por conhecer mais bandas, pela estética musical como um todo. 

O emo claramente se foi pouco tempo depois, mas aquele interesse nunca. E ele é o grande responsável por quase todas as minhas escolhas na vida. 



2 comentários:

  1. A dor e a delícia da nostalgia. Reação em Cadeia no Concórdia em 2004 e as filas enormes pra entrar no clube nas festas de natal e reveillon, lembra? haha
    No kazaa e no limeware eu consegui baixar 50% música, 20% arquivos corrompidos e 30% pornografia involuntária. Era ruim mais era bom...

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    1. Eu quase choro de nostalgia. Esperava o ano todo pras festas de natal e reveillon do Concórdia, eram as *melhores* porque ia todo o povo que tinha ido estudar fora e voltava pra visitar hahah

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