sexta-feira, 8 de abril de 2022

Os argentinos e o bidê

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Toda vez que vejo um argentino brigando com um espanhol no Twitter há uma provocação que não falha: “e tu, que não tem bidê e anda com a bunda suja”. As respostas que vêm do outro lado do oceano nunca são satisfatórias. A maioria diz que há sim bidês na Espanha e que os argentinos provavelmente não viram porque ficaram em hotéis muito baratos, pois sudacas pobres.

Como brasileira, nascida e criada no Brasil, preciso dar minha contribuição a essa eterna discussão. No Brasil não temos bidê. Lembro que nos anos 1990 eu até via algum na casa das minhas amigas e até na da nossa vizinha, a Dona Norma. Quando eu era criança achava que era para lavar os pés, não a bunda. Não sei bem quando foi que entendi a função correta do bidê, já que nas poucas casas em que ele estava presente, sua utilidade era basicamente apoiar coisas, desde revistas - uma distração para longos momentos no banheiro - ou objetos comumente encontrados ali, tipo escovas de cabelo, rolos de papel higiênico, toucas de banho, etc.

E o mais louco é que no Brasil a gente não anda com a bunda suja de cocô. Alguém deve andar, mas em geral as pessoas não cheiram a cocô em lugar nenhum. Deve ser também porque somos famosos por tomar muitos banhos. 

Talvez o fato de não termos bidê tenha feito com que nossas mães nos ensinassem muito cedo a limpar bem a bunda com um bom papel higiênico (no texto em espanhol preparei um tutorial, mas como a gente sabe limpar a bunda, aqui não vejo necessidade). Não estou dizendo que depois de cagar e limpar muito bem a bunda com papel higiênico você já estaria pronto para para que alguém colocasse a cara entre as suas nádegas, definitivamente não. Mas, na minha opinião, mesmo que você não tenha  ido ao banheiro nenhuma vez desde seu último banho, se já passaram muitas horas você não está preparado para alguém colocar a cara lá, correto?

Dito isso, confesso que me preocupa um pouco morar em um país onde as pessoas acreditam que, se você não tiver um bidê, obrigatoriamente tem que sair na rua com a bunda suja de cocô. Isso claramente significa que se o guiso de lentejas do almoço tiver caído mal a alguém no trabalho, no cinema, no aeroporto, em um restaurante ou no shopping, essa pessoa sairá do banheiro com a bunda suja. Não sei se porque não usam papel higiênico de jeito nenhum ou porque usam errado, já que não têm o hábito. Por precaução, de agora em diante, se eu suspeitar que alguém saiu do banheiro público depois de fazer o número dois, manterei alguns metros de distância.

Para encerrar, trago outro detalhe interessante. As pessoas mais próximas a mim, nascidas e criadas na Argentina, não usam bidê. Talvez em algum momento de suas vidas tenham usado, mas hoje em dia não. Como eu sei? Alguns me falaram e outros, bom… quando vieram na minha casa não usaram e em suas casas seus bidês têm a mesma utilidade que tinham nas casas brasileiras dos anos 90. Aparentemente só os tuiteiros argentinos usam.


PS. Este texto nasceu em espanhol e foi posteriormente traduzido ao português.

2 comentários:

  1. Eu PRECISO ler esse tutorial em espanhol, pfv.

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    1. Ai, tava mal o link, já arrumei. Clica em "Leer versión en español" :D

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