terça-feira, 17 de maio de 2022

Como me tornei espectadora das Kardashians

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 Khloé Kardashian, fina como um dedo destroncado

Até meados do ano passado eu era uma pessoa como você, nobre leitor. Não sabia os nomes das Kardashians, que caras tinham e nem quantas eram no total. Só conhecia a Kim, porque era a mais famosa, a mais excêntrica e a que era casada com Kanye. Sabia que tinha várias irmãs com quase tantas cirurgias plásticas quanto ela, mas não muito mais do que isso. 

Minha ignorância foi completamente arruinada quando começaram a sair as primeiras fotos de Kourtney Kardashian com Travis Barker. Eram dois mundos se chocando, e mesmo que eu não acompanhe muito o Travis porque já não tenho mais 18 anos há um tempinho, meio que tem a ver com o meu mundo ainda. E a relação entre os dois me causou curiosidade, portanto comecei a acompanhar. “A Kourt mudou de estilo por causa do Travis”, comentavam as fãs da Kardashian primogênita nas fotos do casal no Instagram do Just Jared. Descobri que a mudança de estilo vem do fato de ela estar incluindo elementos do punk e do metal em seus outfits. Só posso dizer que ela está correta e tem meu apoio.


Daí, como se já não fosse suficiente envolvimento de minha parte, a Kim começou a sair com Pete Davidson. E esse sim admito que de certa forma eu acompanho. Não sou fã de stand up comedy, mas os dele eu até gosto. Acho ele engraçado de um jeito interessante, costeando o alambrado do humor saudável e o cancelável. De novo, dois mundos se chocando. De novo achei curioso, de novo comecei a acompanhar. E se você começa a acompanhar DUAS Kardashians você automaticamente está presa em um caminho quase sem volta proporcionado pelo algoritmo.


Logo descobri que eram cinco irmãs, e que a mãe delas, Kris Jenner, também é uma Kardashian, totalizando seis Kardashians. Tem também um irmão aí no meio, mas ele é irrelevante. Nem as irmãs se importam com a sua existência. Descobri também que a matriarca é quem resolve tudo, é a relações públicas de toda a família e quem faz elas aparecerem ou inclusive desaparecerem quando necessário. 


Enquanto acompanhava suas vidas, sem precisar fazer qualquer esforço, por meio das fotos e notícias que apareciam oitenta vezes por dia no meu Instagram e na página inicial do Google, descobri que elas estavam gravando uma nova temporada do seu reality show. Descobri também que não se chamaria mais Keeping up with the Kardashians e que seria transmitido via streaming no Hulu, e não mais pelo canal E! Entertainment. 


Em meio a repercussão da gravação do programa, brotavam as perguntas. Kanye vai aparecer? Travis vai aparecer? Pete vai aparecer? Eu, claro, uma vez mais fiquei curiosa. Tão curiosa que um dia depois da estreia do primeiro episódio de The Kardashians, dia 14 de abril, eu já me sentia pronta para dar mais esse passo na minha vida. Assisti inteirinho.


A primeira coisa que senti foi vertigem, porque começa com um drone percorrendo a região de Calabasas em alta velocidade por uns cinco minutos ininterruptos. Quando finalmente começou, eu só conseguia fazer perguntas a mim mesma.


Isso é sério? 

Quer dizer, elas realmente estão em frente a várias câmeras falando de assuntos pessoais e contando coisas que elas não querem que outras pessoas saibam? 

Elas realmente querem que a gente acredite que isso é real? 

As pessoas realmente acreditam que isso é real? 

As pessoas acreditam que elas se vestem assim e se maquiam assim todos os dias?

Por que o ex-marido da Kourtney está enfiado aí o tempo todo?


Custava um pouco entender a dinâmica porque quando elas falavam diretamente para a câmera parecia que eu estava vendo The Office, só que sem a parte engraçada. Quer dizer, a parte engraçada era a própria existência de tudo aquilo.  


Uma semana depois saiu um novo episódio e onde eu estava? Isso mesmo, dando play para assisti-lo. Dessa vez já estava mais acostumada com o formato, então outras coisas me chamaram mais a atenção, como a falta de expressões faciais de Kim e o fato de elas irem comprar carpetes para a casa nova calçando scarpins de salto fino. Também me surpreendeu um pouco a presença constante de Travis Barker, que aparece mais que as duas Kardashians mais jovens, Kylie e Kendall - o que por um lado é ótimo, porque elas têm o carisma de uma pedra brita. Pensei que ele não ia querer se expor tanto, mas pensando bem, hoje em dia se ele não se expor ali, vai aparecer onde? 


E até Kanye deu as caras depois de supostamente estar falando com Kim por telefone enquanto ela se desfazia em lágrimas. Ele aparece no terceiro episódio, se não me engano, porque eu claramente continuei assistindo na semana seguinte, e na outra também, e agora só deus poderá me tirar deste buraco que escolhi entrar e já não posso mais sair. 


No quarto episódio é quando Travis pede a Kourtney em casamento. Dias antes do pedido TODO MUNDO já sabe, menos a Kourtney, claro. A mãe Kardashian e todas as irmãs sabem, seus respectivos namorados e maridos sabem, a Ellen Degeneres sabe, toda a equipe de maquiadores de todas as irmãs sabem, os filhos do Travis sabem, todos os cinegrafistas, motoristas e produtores do reality show e de todos os programas que elas participaram nesse ínterim também sabem. Menos a Kourtney. E no dia do pedido toda a família e agregados se meteu no mesmo hotel que ela e Travis estavam hospedados para fazer uma festa surpresa de noivado. Kourtney não parecia muito entusiasmada com a festinha, mas a verdade é que é difícil detectar qualquer emoção em meio a tanta toxina botulínica e ácido hialurônico. Valorizem as minhas enquanto eu ainda não comecei as aplicações. 


Até agora foram ao ar cinco episódios (o último foi maravilhoso, com mamma Kardashian perguntando se o chef não poderia cortar um pepino para Kendall porque ela estava tendo sérias dificuldades) e não tenho ideia de quantos faltam. Só queria minha sanidade de volta (depois de terminar a temporada).


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