segunda-feira, 13 de maio de 2019

Quatro

Estou aqui olhando pela janela as árvores da rua Nicaragua, estão prestes a perder as folhas outra vez. Calculo que em um mês serão apenas galhos marrons, igualzinho era quando comecei a trabalhar aqui, em junho do ano passado.
 Hoje faz quatro anos que vim para Buenos Aires. A única coisa que não mudou desde então - e que não mudou desde que eu nasci, basicamente - é esse movimento para que amanhã eu esteja melhor que hoje.
Em maio de 2015 eu não podia sonhar que quatro anos mais tarde estaria trabalhando em uma segunda agência de publicidade em Buenos Aires. Que ideia absurda. Eu era só uma jornalista em busca de alguma coisa que fizesse sentido. Na verdade, no dia que eu cheguei eu só pensava em voltar pra minha casa e deixar de ser louca. Agora estou aqui, fazendo gráficos de comparação de métricas enquanto penso pela enésima vez que meus conhecimentos são muito limitados para os meus objetivos. Eu não sei como vou fazer para aprender a usar essas oito ferramentas que acabei de ver que eu tinha que saber usar.
 Depois de quatro anos, já quase não me perguntam mais de onde sou. Já passo praticamente despercebida em meio aos portenhos, só não tanto quanto o jornalista brasileiro que veio passar um feriadão aqui e contou no Twitter que muitos portenhos pensaram que ele era daqui. Mas eu sei mais expressões locais que alguns próprios locais. Juro.
 Eu entendo todas as jergas, todos os xingamentos, todos os sotaques, ainda erro algumas coisas, mas se brasileiros ainda erram o português eu sinto que tenho esse direito. Já sei quais políticos odiar, tanto no âmbito municipal como no federal. Já faço pequenos escândalos quando me atendem muito mal, seja no cabeleireiro ou na clínica de investigações metabólicas que frequento periodicamente devido ao meu hipotireoidismo. Já reclamo do meu salário diretamente ao RH, entro em qualquer tipo de discussão que me pareça interessante e estou pensando em me cadastrar para votar para presidente em algum momento.
Às vezes penso em voltar, mas dura menos que um bocejo.

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