quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Então eu disse adeus a Belgrano

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 Minha janela palermitana

Lembro como se fosse hoje da minha primeira manhã morando em Belgrano, em junho de 2015, e se não lembrasse teria este mesmíssimo blog para refrescar minha memória. Desde aquele dia eu nunca mais quis ir embora do bairro e fui somando nele histórias e recordações que foram dificultando deixá-lo para trás.

Foram meses morando na Avenida Juramento, um período curto na Rua Jorge Newbery, depois mais alguns meses de volta à Juramento e um pequeno desvio de dois anos em que vivi no bairro vizinho, Colegiales, onde apenas meia quadra me separava do meu Belgrano. Depois, voltei oficialmente a ele e ali passei os últimos três anos, na Rua Vidal quase esquina com ela, ela mesmo, a Avenida Juramento. 

Todas as vezes em que precisei me mudar até considerava outros bairros, mas sentia uma nostalgia antecipada só de pensar em não caminhar mais todos os dias pelas ruas de Belgrano, mas dessa vez aconteceu. Eu deixei ele ir. Quer dizer, eu fui embora dele. 

Agora sou a mais nova moradora de Palermo, o bairro mais trendy da cidade. Ninguém jamais veio a Buenos Aires sem visitar Palermo. E admito que tô gostando. O problema é sair dele uma vez que simplesmente tudo o que uma pessoa necessita está em um raio de 500 metros. Todos os desejos que um ser humano pode ter são facilmente satisfeitos ao andar apenas umas poucas quadras. Vinho em torneira, pizza de fermentação natural, waffle em forma de pinto, depilação a laser, crossfit, disco de vinil, livro novo, livro usado, gin tônica, cosmopolitan, sorvete de mousse de maracujá, dumplings, café colombiano, um corte de cabelo, meio quilo de morango, alga nori, uma camisa floreada, um pijama de dinossauros, um prato de ravioli ou uma maçaneta nova para a porta. 

E como estou numa parte mais clássica do bairro, que não é caminho para nenhuma balada palermitana, tenho tudo isso sem ter que resvalar em vômito juvenil na porta do meu prédio. 

Eu diria que se soubesse que era tão bom teria vindo antes, mas a questão é que eu não estava preparada emocionalmente para me despedir de Belgrano. Acredito que ter terminado e finalmente publicado meu livro, cuja história se passa nele, foi o desapego necessário para esse novo passo ao bairro vizinho. Mas eu continuo amando Belgrano, só que agora a distância.


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