Desde ontem Buenos Aires é a minha nova cidade. Não sei até
quando. Larguei tudo e vim, como aquelas pessoas super corajosas e bem
resolvidas que deixam tudo em busca de uma aventura para crescimento pessoal. Para
mim, eu era uma dessas pessoas. Fiquei um mês resolvendo coisas, uma semana
empacotando minha vida, uma parte para trazer comigo, outra para mandar para a
casa dos meus pais até a minha volta. Sem angústias, sem dúvidas, completamente
cheia de certezas até o último fio de cabelo. Estava obviamente preparada para tudo.
Saí do meu emprego e quando fechei a porta da redação, após
uma série de abraços e um tchau coletivo, eu quis chorar. As lágrimas estavam
ali, implorando para rolarem bochecha abaixo, mas eu só deixei que elas umedecessem um pouco os meus olhos, respirei fundo e fui, afinal, pessoas bem resolvidas que sabem o
que estão fazendo não choram nessas horas. Dois dias depois, quis chorar quando dei o
abraço de despedida na minha mãe. Mais uma vez, não deixei
as lágrimas saírem. Uma pessoa tão cheia de certezas não chora ao
se despedir da família.
Mas no dia da partida, quando me despedi da minha casa, de
Florianópolis e da pessoa com quem dividi quase quatro anos e meio da minha
vida, mais da metade deles sob o mesmo teto, aí... bem, eu vi que não era uma
daquelas pessoas. Sabe criança rolando no chão do supermercado quando a mãe diz não? Só faltou isso.
E eu, que gosto de puxar o esparadrapo rápido para doer
menos, tinha escolhido viajar de ônibus. O resultado: 25 horas tentando dar um
sentido para o que eu estava fazendo, 25 horas tentando fazer com que as razões
que me fizeram tomar essa decisão voltassem imediatamente à minha cabeça. Mas,
veja só, elas tinham sumido. Eu só queria de volta aquele sofá que eu nem
gostava, duro e cheio de pelos de gato. Queria minha casa, lavar roupas na
máquina, lavar louça, esticar o edredom, ir a Balneário Camboriú ver meus pais
nos fins de semana, ir ao mercado aos sábados, ir ao Taliesyn ou ao Gato Mamado
eventualmente. Queria fazer bolo de cenoura naquele forno horroroso.
A coisa pouco mudou quando cheguei e pouco mudou após a
primeira noite no hostel onde decidi passar o primeiro mês de minha estadia. Eu
sei que em vez de estar tentando segurar o choro em uma sala cheia de hispanohablantes
discutindo sobre a Champions League eu deveria estar sorrindo de orelha a
orelha pelas ruas da Recoleta. Eu não tinha me preparado pra isso durante meses?
Isso aqui não é pra dizer que largar tudo e ir embora não é
tão bom quanto nos dizem os blogueiros de viagem. É pra dizer que mesmo as
pessoas mais cheias de certezas às vezes perdem todas elas quando a realidade
bate na porta. E que quando se está longe se sente saudade das coisas mais
ridículas. Se sente saudade de coisas que a gente nem gostava.
Dois dias longe da minha zona de conforto e eu já fui
sacudida até quase vomitar. Vamos acompanhar os próximos capítulos.
Juro que deu vontade de te abraçar. Mas essa sensação, por mais decididas e corajosas que sejamos, essa saudade dolorida acompanha por um bom tempo até fazermos aquilo que o ser humano faz de melhor: adaptar-se. No fim das contas, não fazemos ideia do quanto os lugares em que vivemos também fazem parte da gente e sair, por mais vontade que se tenha, é como perder um braço. Ficamos meio aleijados no início. E quando vc tiver de deixar Buenos Aires, sentirá falta de mil coisas também, somos o que escolhemos, mas somos onde moramos, somos o que deixamos, o que fizeram com a gente, as lembranças da infância, os planos de futuro, somos imensos e sempre tem espaço para mais. Sucesso na nova jornada!
ResponderBorrarAi, Bruna. Obrigada pelo comentário. O da outra página também. Ainda estou sem palavras sobre o que você falou lá, porque uma coisa é receber elogios de quem não tem o costume de ler (e principalmente de escrever), mas você faz parte desse mundo tanto (ou mais) quanto eu, então recebo com o coração batendo um pouquinho mais rápido!
BorrarSobre meu sentimento com a mudança, no minuto em que cheguei eu já queria voltar, e com o passar dos dias aconteceu exatamente aquilo que você disse que fazemos de melhor. Logo tudo foi ficando menos assustador e aquela saudade aparece só em momentos muito pontuais. E eu vim justamente pra me desafiar e voltar pro Brasil uma pessoa melhor do que a que saiu de lá aos prantos.
Muito obrigada e sucesso pra você também!