Eu sou a única das minhas amigas de infância despeitadas que
não economizou para colocar silicone. Eu economizei alguns silicones para
passar seis meses porralouqueando ali no país ao lado. E eu acho que com isso frustrei
algumas expectativas, mas pelo menos não foram as minhas.
Em diferentes fases da minha adolescência eu tive três
amigas que em comum comigo nutriam a sensação de que só na gente nada acontecia
na região do peito. Na sexta série eu e duas delas lamentávamos juntas que
apenas nós ainda não tínhamos qualquer necessidade de usar um sutiã de algodão.
Na sétima, uma delas foi embora da cidade, mas não sem dar lugar a uma nova
despeitada frustrada. De repente já estávamos ali, com quase quinze anos e uma
única certeza: jamais teríamos seios volumosos sem pagarmos por eles.
Esse parecia ser nosso destino, nossa missão para quando nos
tornássemos adultas e ganhássemos salários que pudessem então pagar por esse
pequeno detalhe que a natureza não dos deu. O que elas (e talvez eu mesma) não esperavam
é que com o passar do tempo eu já não fosse mais achar tão absurdo que meu
corpo tivesse mais semelhanças com o da Keira Knightley do que com o da
Cicciolina.
Primeiro a dedicação com minha aparência foi simplesmente
desviada para o meu cabelo e seus cortes e cores excêntricos, alguns piercings
juvenis e tatuagens que continuaram se espalhando. Mas o passo maior veio junto
com acúmulo de anos em minha certidão de nascimento. Quando minhas amigas
finalmente conseguiram a verba para o tão sonhado peito, eu já estava
abandonando os bojos mais protuberantes porque achava mais bonito me olhar no
espelho e me ver com aquilo que era meu de nascença.
Hoje imagino que se em algum momento eu economizasse para colocar
silicone eu olharia para minha conta bancária e pensaria em uma única coisa:
O caralho com essas tetas, eu vou é pra Machu Picchu.
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