segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Como vive uma pessoa completamente desprovida de talento

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Eu, todos os dias.

 Eu queria que alguém me convencesse de que nem todas as pessoas no mundo têm algum tipo de talento para eu finalmente parar de procurar o meu e aceitar que estou neste mundo apenas para assistir séries e comer bolo. E não é que esse talento que tanto procuro fosse transformar a minha vida ou me fazer ganhar dinheiro. Nada disso. Eu só queria mesmo era encontrar esse algo em que eu fosse realmente boa para poder viver (e morrer) em paz. 

No âmago de procurar, procurar e não encontrar, eu acabo ficando puta com dois tipos de gente.

Primeiro, com quem tem algum talento e não faz nada com ele. E não falo nem de monetizá-lo necessariamente, mas transformá-lo em hobby, em algo para fazer todos os dias e se sentir orgulhoso. Ou para se exibir mesmo, postar no Instagram, fazer um videozinho pro TikTok.

E segundo, com gente que tem mais de um talento. Que desenha com perfeição e também toca guitarra como David Gilmour. Gente que poderia estar na seleção brasileira de handebol e que também cozinha como um chef internacional. Ou então gente com aquele talento que exige pouca ou nenhuma dedicação, tipo nascer bela, com o nariz perfeito e as medidas padrão e ainda ter uma facilidade absurda de se relacionar com as pessoas, de ser simpática, amável ou extremamente engraçada. Não é culpa delas, mas puta merda, que ódio. 

Além de ter nascido completamente talentless, eu ainda tive que me esforçar para desenvolver algumas habilidades nas quais sou apenas medíocre, tipo fazer molho de tomate ou escrever. E o mais engraçado é que um dos poucos atributos de valor que possuo é a minha consistência, algo que desenvolvi recentemente. E sabe por que é engraçado? Porque mesmo sendo consistente, eu não consigo desenvolver nenhum talento naquilo em que eu sou consistente.

Quer dizer, eu sou realmente muito disciplinada para treinar, por exemplo. Vou cinco vezes por semana e nem lembro a última vez que faltei, provavelmente quando estava doente ou tive um compromisso importante e inadiável. Mesmo assim, meu corpo ainda não compartilha qualquer semelhança com o de Grazi Massafera. 

Também sou consistente com as minhas práticas de piano. Fiz aulas por pouco tempo, mas pratico pelo menos três vezes por semana há quase cinco anos e parece que comecei há dois meses. 

E sabe o que eu realmente comecei há dois meses? Sim, as aulas de canto. Não faltei nem um dia, mesmo sabendo que sou um caso perdido

Há alguns meses também comecei a ter aulas de inglês por causa do meu trabalho, e a cada nova semana minha conversação com a professora fica pior. Cada aula esqueço como se falam pelo menos dez sentenças que eu sei como se falam e outras dez que eu realmente não tenho ideia.

Isso sem falar do francês, que comecei a estudar por conta própria há anos, quando consistência ainda não era uma obsessão para mim, e ainda não saí do nível básico. 

Poderia escrever 25 laudas sobre o assunto, mas preciso plantar a quarta suculenta no vaso que a minha amiga russa pintou e me deu de presente em janeiro. Sim, de janeiro até aqui eu matei três suculentas. Acho que isso diz muito sobre mim.


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