I see tetas everywhere

Existe um senso comum ao qual todas nós, brasileiras, já estamos acostumadas, não só ao interagir com estrangeiros, mas também com nossos próprios conterrâneos: a ideia de que a gente adora mostrar o corpo e que vive praticamente pelada em qualquer lugar. Não estou aqui para negar essa percepção, mas… já deram uma olhada nas europeias? Sim, porque perto das europeias — ou das espanholas, que são as que eu conheço melhor —, a gente é até bem recatada.

É verdade que, se compararmos uma espanhola e uma brasileira andando na rua no verão, é mais provável que a segunda esteja mostrando mais carne. No entanto, já frequentei academias tanto no Brasil quanto na Argentina, e o único lugar onde costumo ver peitos todos os dias é em Barcelona. Aliás, não vi um único peito nos vestiários das academias que frequentei no Brasil e na Argentina.

Quando digo "ver peitos", talvez o leitor pense “Ah, são só uns segundos enquanto elas trocam de roupa, não é como se tivessem outra alternativa”. Mas este é o ponto: não são só uns segundos.

Eu não troco de roupa na academia, mas uso o vestiário para guardar minhas coisas, ir ao banheiro, me olhar no espelho enquanto amarro o cabelo e pouco mais. E nesse ínterim, percebi que existe na atmosfera um certo prazer em mostrar os peitos. As europeias têm orgulho dos seus peitos e aprenderam que não tem problema nenhum em exibi-los livremente em espaços onde isso é permitido. Dito isso, a ordem das suas ações ao entrar no vestiário depois do treino é:

  1. Tirar a blusa e o top

  2. Abrir o armário e pegar as coisas

  3. Tirar os produtos de higiene da mochila

  4. Responder algumas mensagens no WhatsApp

  5. Tirar a parte de baixo (incluindo os tênis)

  6. Ir pro chuveiro

  7. Voltar pro vestiário

  8. Vestir a parte de baixo

  9. Fazer os sete passos da rotina de skincare

  10. Secar o cabelo

  11. Guardar tudo na mochila (menos a parte de cima e os tênis)

  12. Calçar os tênis

  13. Responder outras mensagens no WhatsApp

  14. Vestir a parte de cima

  15. Ir embora

Percebem que entre tirar o top e vestir a parte de cima outra vez há treze etapas completadas com os peitos completamente de fora?

Também já presenciei variações, em que a maioria dessas etapas é feita não só com os peitos à mostra, mas também com a chavasca descoberta. Algumas sentam totalmente peladas nos bancos do vestiário e respondem, tranquilamente, áudios e mensagens no celular.

Agora passemos a outro ambiente free titties na Espanha: as praias.

Imagino que essa altura todos saibamos que fazer topless é permitido aqui, enquanto no Brasil, o país das seminuas, isso pode terminar com uma mulher dando um pulinho na delegacia. Mas uma coisa é saber, e outra é ter isso em mente. Provavelmente você só vai lembrar dessa informação quando já tiver esticado sua canga na areia e, ao levantar a cabeça, tiver uns seis mamilos femininos te encarando diretamente.

Admito que isso me faz sentir ridícula toda vez que entro no mar e uma onda tira um pouco do lugar a parte de cima do meu biquíni. Arrumo na velocidade da luz, porque god forbid mostrar um pouquinho mais de pele.

Também admito que um pensamento intrusivo — e um pouco polêmico — foi o que me motivou a escrever isto. E se eu pensei essa bobagem, você também vai pensar.

Imagina que você é brasileira e agora mora na Espanha. Com seu namorado/esposo/cônjuge. Ele tem um grupo de amigos e amigas do trabalho, com seus respectivos namorad@s/espos@s/cônjuges, que os convida para passar um sábado na praia. Vocês se dão bem, até já saíram juntos algumas vezes.

Agora imagina que já chegaram todos: guarda-sol armado, cadeiras abertas, cangas estendidas... e você vê que a María, do RH, decidiu tirar a parte de cima do biquíni e está vindo pegar uma lata de cerveja no cooler. Mas ela não é a única: a Laurita, namorada do Juan, de Logística, também não quer marquinha de biquíni. E só você acha estranho que tanto você quanto seu namorado/esposo/cônjuge estejam vendo os peitos da María e da Laurita, sempre bem perto do seu rosto toda vez que elas se levantam para pegar uma cerveja. Ou seja, só você acha estranho que, na segunda-feira, seu namorado/esposo/cônjuge vá até a mesa da María para resolver um problema com o pagamento das horas extras sabendo exatamente como são os seus mamilos.

Enfim, era só isso. Free the nipple.

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