quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Ódio nosso de cada dia

Leer versión en español  

Primeiro achei que era tudo uma grandessíssima mentira isso de que ter uma alimentação saudável e fazer exercícios diariamente traziam resultados. Aquelas mulheres do Instragram com o six pack na barriga só poderiam ser uma farsa. Mas depois me convenci de que meu corpo é defeituoso mesmo. Não no sentido de que falte ou sobre algo para seu perfeito funcionamento, mas porque ele simplesmente não reage a esses estímulos. 

Um pouco antes da pandemia eu já tinha começado de uma vez por todas a me alimentar decentemente e não somente fingir que o fazia, como vinha ocorrendo nos últimos anos. O mesmo sucedeu com a atividade física. Eu nunca tive uma rotina saudável que durasse mais de seis meses e nem tão regrada como a que tenho hoje, e agora que finalmente superei todos os meus limites posso afirmar que: não serviu para nada.

Só para eu odiar ainda mais o meu corpo. Eu não tinha tanto problema com ele, basicamente não importava tanto como ele era, não prestava muita atenção, algumas coisas me incomodavam, mas não tiravam o meu sono. Apenas tentava não comer muito porque tenho hipotireoidismo. Ter hipotireoidismo significa que para queimar as calorias de um granulado preciso correr 16 quilômetros. 

Porém, ao começar a me exercitar diariamente (literalmente, de segunda a segunda), diminuir 80% do consumo de açúcar e praticamente zerar o de ultraprocessados, fazer jejum intermitente três vezes por semana, reduzir o consumo de álcool e trocar todos os refinados por integrais, eu esperava resultados. Todo mundo espera resultados depois de um esforço, suponho. Mas eles simplesmente não apareceram. E aí comecei a odiar meu corpo de verdade. 

Porque se antes eu não estava satisfeita com ele era porque comia doce de leite todos os dias, tomava cerveja todo fim de semana, colocava açúcar no café e o sedentarismo era minha religião. Era minha culpa. Eu não estava contribuindo.

Só que agora eu estou e, portanto, já não é mais minha culpa. 

Eu poderia fazer como o Ronaldo e culpar o hipotireoidismo, mas isso não vai fazer eu me odiar menos, infelizmente.

E eu não posso simplesmente deixar pra lá todo esse esforço e esperar que meu corpo continue igual. Não. Há uma questão aí. Ele pode até não melhorar com tudo o que eu faço, mas se eu deixar de fazer, eu sei o que vai acontecer. Outra alternativa seria me aceitar como sou, mas sabemos que isso é utópico.

Assim como todas as mulheres, fui programada para me odiar e vou me odiar mais a cada aniversário. Porque, além de tudo, cometi o crime de ter 30 anos e vou cometer outros com o passar dos anos e com eles virão mais e mais ódios para administrar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário