sábado, 19 de agosto de 2023

Fui a uma clínica estética e adivinhe o que aconteceu

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Se você leu meio post deste blog já deve ter percebido que não sou nenhuma paladina da aceitação e do amor-próprio e que I may or may not ter pensado por um segundo que amputar meus dois braços seria a solução para a sua desproporcional circunferência. Isso dito, fui a uma clínica estética. Novamente. Só que desta vez não se tratou apenas de uma breve visita sem compromisso e o que me levou até ela não foram meus braços. Uma mulher sempre pode encontrar um novo problema em sua aparência para resolver. Dessa vez a ideia era dar uma melhorada nessa carinha de balzaquiana. 

Apesar de eu não ser uma paladina da aceitação e do amor-próprio, admito que sempre tive uma certa resistência a procedimentos tipo botox ou fillers em geral. Acho que tudo ótimo quem quer fazer, talvez algum dia eu até queira. Algumas ficam ótimas, outras ficam bem ruins. Mas essa é só a minha opinião. Vai lá e infla teus lábios se você quiser. Contudo, sempre tive curiosidade com outros tipos de tratamentos, daqueles que tratam e não colocam substâncias estranhas para rechear sulcos. Existem aproximadamente oitocentos mil tratamentos desse tipo: radiofrequência, luz pulsada intensa, CO2 fracionado, mesoterapia, plasma rico em plaquetas, hifu, pixel, terapia fotodinâmica, dermapen, só para citar alguns.

Eu queria suavizar umas manchinhas de sol que apenas eu via, diminuir um pouco uns poros dilatados que apenas eu via e apagar umas linhas finas de expressão que, adivinhe você, apenas eu via. Queria que fosse rápido, tipo uma única sessão, e que fosse realmente efetivo. Como esse tipo de tratamento é recomendado no inverno, pesquisei durante um mês e o escolhido foi um combo de laser de CO2 fracionado e plasma rico em plaquetas. Uma pequena fortuna da qual nunca vou me recuperar financeiramente. 

Mas eu estava empolgadíssima. Escolhi uma semana sem muitos compromissos, cancelei os poucos que tinha e fui para a sessão em um belo fim de tarde de uma segunda-feira de julho. 

Se no dia da primeira consulta a médica tivesse retirado um frasco da gaveta, aberto debaixo do meu nariz e dito “esse é o cheiro que você vai sentir durante o procedimento” eu teria claramente saído porta afora para nunca mais voltar. Ela disparou o primeiro raio e o cheiro que emanava naquele consultório branco era de queimado. Literalmente, carne queimada. A minha carne, no caso. A carne do meu ROSTO. O cheiro era tão horroroso e a ideia de que aquilo saia da minha cara era tão absurda que eu sequer estava prestando atenção na dor. Mas ela existia. Ela estava lá.

Às vezes uma pessoa só precisa sentir cheiro de carne de rosto humano queimada para repensar suas escolhas. Naquele momento pensei pela primeira vez “que caralhos estou fazendo com a minha vida, alguém me tire daqui”, mas eu já tinha passado o cartão de crédito e teria que ir até o final. Por sorte não demorou tanto. Terminada a sessão, a médica espalhou um gel viscoso para aliviar a ardência e reduzir a vermelhidão, mas não sei se realmente funcionou, porque quando entrei no elevador meu rosto ardia e estava bem vermelho. E assim voltei para casa, caminhando da Recoleta até Palermo às sete e meia da noite. O vento fresco aliviava um pouco a dor, mas não era exatamente uma noite fria de inverno porteño, acho que fazia uns 14 graus. Fiquei com o rosto ardendo em chamas até quase a hora de ir para cama, quando descobri que o creme que a médica me deu solucionava a questão. Não tive grandes problemas para dormir, fora o fato de ter que deitar olhando para o teto toda a noite.

Eu já sabia que a minha cara ia ficar feia por uns dias. Bem feia. Feia mesmo. Mas eu não estava preparada para o que vi no espelho naquela terça de manhã. Eu era a Amy Schumer com insolação. 


— La puta madre, estoy muy hinchada — Eu disse pro Javi do banheiro. — No me mires. — emendei, enquanto saia em direção à sala com a cabeça baixa, crente que aquela era uma situação momentânea que se solucionaria em talvez uma hora ou duas.

 

É claro que isso não aconteceu e eventualmente ele teve que me olhar. Não parecia tão surpreendido, entretanto. 

Passei o dia carregando aquela melancia descascada no pescoço e o que me conformava era que pelo menos não doía e que amanhã seria um novo dia e tudo seria melhor. Só que amanhã não foi melhor.

Naquela quarta-feira teria sido realmente ótimo se eu continuasse parecendo a Amy Schumer com insolação, mas não. Agora eu era o próprio homem elefante. Mal e porcamente conseguia abrir os olhos. Eu podia ver a ponta de uma remela que não dava para limpar porque estava completamente presa e tapada pela pele inchada da minha pálpebra. Aquilo não era normal. Eu tinha visto uma dúzia de vídeos de pessoas que fizeram o mesmo tratamento, mostrando como suas caras estavam cada dia depois do laser e absolutamente nenhuma delas ficou remotamente parecida com aquilo. Seria alergia ao creme de ervas descongestionantes que a médica me deu?

Tentei não entrar em pânico. O Javi ainda dormia e eu estava trancada no banheiro pensando no que fazer. Tirei uma foto e mandei para o WhatsApp da clínica dizendo que eu estava muito preocupada com o inchaço. Lavei bem o rosto e passei um creme novo que deveria ser aplicado apenas naquela noite, quando completassem 48 horas do procedimento. Ninguém me respondia. Tentei outro número. Nada. Fui à cozinha buscar gelo, coloquei numa sacolinha plástica e apoiei sobre os olhos. 

O Javi finalmente acordou e o diálogo foi similar ao do dia anterior. Mas dessa vez era sério. Eu estava em pânico. Por sorte ele tinha uma call e se trancou no quarto sem ter nenhum tipo de interação comigo. Eu precisava que dessa vez, sim, o problema se solucionasse em poucas horas porque era difícil fazer coisas com a cara daquele jeito, mesmo se eu não me olhasse no espelho. 

Já tinham passado duas horas e nada de resposta da clínica. Por sorte, meus olhos estavam desinchando gradualmente e eu voltava a ser somente a Amy Schumer com insolação. Ao meio-dia finalmente chega uma resposta. “Não se preocupe, é normal”, dizia a moça da recepção. “Eu também fiz e fiquei mais ou menos assim”. Disse que, se eu quisesse, a médica poderia receitar algo para diminuir a inflamação, mas cortaria o tratamento, já que isso era parte do processo. Obrigada por nada. 

Os dias que seguiram foram um pouco melhores. Eu tinha pedaços de pele seca por toda a roupa e uma vontade enorme de arrancar todo o resto com as unhas porque coçava como o inferno. O inferno deve coçar desse jeito e arder como no primeiro dia. 

No fim de semana eu já tinha praticamente voltado ao normal. Ainda havia um pouco de pele descascando nas extremidades e uma mínima vermelhidão, mas eu já podia ser vista em público sem assustar crianças e idosos. 

Duas semanas depois de recuperada, veio a segunda parte desta onerosa brincadeira. A aplicação do plasma rico em plaquetas. Não sei se o nome do tratamento deixa claro do que realmente se trata, mas em todo o caso eu explico: é simplesmente colocar uma parte do meu próprio sangue no meu rosto com injeções superficiais. 

A médica extraiu meu sangue e, enquanto a centrífuga trabalhava para separar o plasma do resto que não seria utilizado, começou a mexer na minha cara. Ela ia me informando sobre cada etapa do procedimento, mas tudo o que eu conseguia pensar deitada naquela mesma sala em cima daquela mesma maca era no cheiro de carne queimada. Só que dessa vez foi tudo mais normal, por assim dizer. Limpeza, esfoliação, ponta de diamante, plasma e microneedling. Em 45 minutos eu estava pronta sem maiores vicissitudes e sem efeitos secundários no dia seguinte.


Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando: terá valido a pena toda essa penúria? Estaria a autora deste relato com a cútis de um delicado bebê?


Não e não. 


Siga-me para mais dicas de procedimentos estéticos que não devem ser feitos.


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