Uma das coisas que mais me empolgaram
quando soube que voltaria a viver em Belgrano foi a possibilidade de pegar o
152 na volta da noite. O 152 é um ônibus que recorre (entre outras) toda a
avenida Santa Fé, toda a avenida Cabildo (e vice e versa) e passa com muita frequência
durante as 24 horas do dia. Ou seja, é com ele que boa parte das pessoas quem não
possuem carro nessa cidade volta pra casa ou vai pra balada na madrugada. Desse
modo, é muito comum encontrarmos tipos muito estranhos nele. Ou pessoas normais
em situações críticas.
Sexta-feira passada eu voltava pra
casa de algo muito tranquilo, em um horário relativamente cedo, ainda não eram nem
duas da madrugada, quando entra esse sujeito no 152.
— Agüero!
— Gritou ele pro motorista.
Aqui a gente tem que dizer pra onde
vai, o motorista registra o valor em uma máquina e então você passa o cartão
para pagar a passagem.
— Agüero
é lá pra trás, tem que pegar o ônibus do outro lado da rua — respondeu o motorista.
— Agüero!
Agüero!
— Já
passou Agüero!
— Agüero
e Cabildo!
— Agüero e Cabildo? Isso não existe.
—
Federico Lacroze e Cabildo.
— Ah,
agora sim.
E seguimos viagem.
Eu tava sentada em um dos bancos mais
à frente, o bêbado passou por mim e seguiu para o meio do ônibus. Ficou parado ali
por um tempo e em seguida voltou para a parte da frente, meio cambaleante. Sentou
no degrau de um banco individual onde estava uma moça, que imediatamente se
assustou com aquele estranho roçando em suas pernas.
Eu evitava ficar olhando aquela cena,
mas de repente a mulher que tava do meu lado disse delicadamente "ele vai
vomitar". Nisso, o bêbado levantou já com a boca cheia de vômito, enquanto
outro rapaz que estava na minha frente, naqueles bancos que ficam de costas
para o motorista, fez um coro junto a uma moça que estava ao fundo. “ELE VAI
VOMITAR! ABRE A PORTA, ELE VAI VOMITAR!!!”, gritavam os dois.
Por sorte a porta do meio estava
muito próxima, o motorista parou, abriu e o rapaz saltou no dilúvio que caia lá
fora.
Nesse momento eu já não enxergava
mais, tudo acontecia às minhas costas, mas o rapaz que estava na minha frente
fez uma cara de nojo tão expressiva que eu consigo imaginar exatamente qual foi
a cena seguinte ao bêbado pular ônibus afora.
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