quarta-feira, 22 de março de 2023

Reconhecendo o brasileiro médio em Buenos Aires

Um dos meus passatempos favoritos quando saio de casa é reconhecer brasileiros nas ruas de Buenos Aires. Isso, claro, estando a alguns metros de distância e obviamente antes de escutar suas vozes. Começou lá em 2015, quando recém tinha me mudado para cá, por influência de um ex-amigo também brasileiro que morava em San Telmo já havia alguns anos. Estávamos caminhando pelo bairro à noite e vimos de longe uma mulher com uma blusa de alcinha pink, uma calça branca ajustadíssima e uma sandália de salto fino combinando com a blusa. Ela tinha cabelo castanho escuro, comprido e muito liso. 

Alá, aquela ali é brasileira ele disse, discretamente.

Dito e feito. Quando a moça passou por nós, virou de costas para comentar algo em português com sotaque do interior de São Paulo à pessoa que estava logo atrás dela.  A partir de aí, levei o hobby para a minha vida. Não era nem preciso treinar muito o olho, afinal foram 25 anos de Brasil e era óbvio como a maioria dos meus conterrâneos destoava dos porteños

A moda vai mudando, e, ainda que eu não acompanhe as tendências do meu ex-país, identificar brasileiros é sempre fácil quando você conhece bem a sua essência. A mulher brasileira média sempre está over dressed em Buenos Aires e dificilmente vestirão cores neutras. Nos últimos meses, notei que o outfit preferido delas para caminhar pelas calçadas esburacadas de Palermo era conjuntinho pink ou azul-turquesa e sandalinha de salto médio em tom pastel. A maquiagem segue a mesma linha: uma sombra colorida e um batom cor-de-boca. Ao lado há sempre um marido de camiseta polo, bermuda cargo e sapatênis com meia branca. 

Aqui, em geral, as pessoas se vestem bem, porém, têm um estilo completamente diferente dos brasileiros, e é bastante compreensível. A menos que seja dress code do trabalho ou que estejam indo a uma balada muito chique, as mulheres quase não usam salto. A gente caminha bastante. 

Ninguém aqui precisa ser do fã clube dos Ramones para usar All Star e coturno. Também não precisa ser fã do Milleconlin para usar Vans. É bastante comum e todo mundo usa. As calças skinny foram praticamente abolidas há uns dois anos, os sobretudos não são somente para ocasiões especiais e maquiagem, quando há, é um delineador preto.

Mas não é só pela roupa que dá para identificar brasileiros a distância. Isso também é possível pelos lugares que eles frequentam. O brasileiro médio que se acha chique reserva mesa na Don Julio Parrilla às sete da tarde porque não conseguiu lugar no horário convencional de jantar. Mas essa eu até vou deixar passar. Todo o estrangeiro que coloca os pés nesta cidade sente que pre-ci-sa comer nesse lugar e não há nada que se possa fazer a respeito. No entanto, o brasileiro médio gosta mesmo é de lugares amplos, clean, com muitas mesas em tom marfim, muita luz e piso de porcelanato. Eles geralmente querem coisas que não estão no cardápio, chamam medialuna de croissant, pedem todo tipo de explicação ao garçom e levantam sem deixar gorjeta.

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